segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Livro: RECEITAS PARA FICAR DOENTE - Introdução

Olá Pessoal,
Achei muito interessante a introdução do livro RECEITAS PARA FICAR DOENTE - A ironia dos hábitos alimentares, da medicina e da vida atual - de Dr. Márcio Bontempo. Apesar de ser um pouco extensa, vale a pena... ainda não li o livro, só a introdução!
Abraços.

Este livro foi escrito para ensinar o digníssimo leitor a sofrer das doenças modernas da nossa civilização. Pode parecer estranho que um médico escreva isto, mas sobram razões para tanto. Há muitos anos dedicamo-nos ao esclarecimento da população quanto às causas ambientais das doenças, seja no tocante à alimentação industrializada, às condições de trabalho, à neurose, à poluição em todos os níveis (atmosférica, sonora, informativa, cultural, ideológica etc), seja quanto aos fatores sócio-econômicos, políticos, culturais e até hereditários. Temos tentado mostrar como a nossa sociedade desenvolveu um sofisticado sistema de exploração e manutenção da doença, com a criação do famigerado complexo médico industrial-hospitalar. Também é fato conhecido que a medicina oficial é envolvida por interesses multinacionais de lucro e que tenta desviar a atenção das causas sócio-econômicas e culturais das doenças para etiologias específicas, "biologizando" e individualizando o problema. Deste modo, recomenda o uso de medicamentos geralmente paliativos, caros e quase sempre perigosos, que oneram violentamente a já combalida economia brasileira. Não existe um programa eficaz que esclareça a população quanto às causas reais das doenças. Toda tentativa de estabelecer medidas de caráter preventivo não vinga, devido às "forças ocultas" que comandam surdamente a economia, principalmente no Terceiro Mundo. Nesse processo, a classe médica, principal responsável pelo esclarecimento da população, é frenada em sua ação graças a uma falsa ideologia que é injetada no aluno desde o primeiro ano de faculdade. Esta, por sua vez, não forma um profissional da saúde, mas um técnico, um soldado contra a doença, treinado para ser um inconsciente vendedor de medicamentos disfarçado de branco. Sendo assim, as técnicas alternativas de medicina, mais baratas, eficazes e geralmente inofensivas, representam enorme perigo para os lobbies multinacionais, que exploram a doença em nome da boa saúde da coletividade. Escrever, então, um manual que ensine a ficar doente é uma variação de estilo que se encaixa bem com a inversão de valores que caracteriza a nossa civilização. Talvez assim o alcance seja maior do que tem sido até hoje, através dos manuais práticos de medicina natural, alimentação natural, denúncias e assim por diante, que são escritos de forma direta e logram resultados apenas parciais, limitados e temporários. Ficar doente é hoje um privilégio, é sentir-se normal, é participar da situação de todos, é ser igual. Os naturalistas, macrobióticos, médicos alternativos, os que não usam o perigoso e traiçoeiro açúcar branco, os vegetarianos, os iogues etc. são vistos como seres estranhos. Desde que a medicina oficial exigiu que o médico assumisse uma posição de poder e, através do uso e do abuso do monopólio do conhecimento científico, impusesse aos seus pacientes as suas ordens e determinações, o doente perdeu sua auto-suficiência, sua autopercepção e a dignidade de conhecer o seu próprio corpo e as causas dos seus males. A utilização de drogas e cirurgias, unicamente, apenas perpetua o processo. Raríssimos são os médicos que se preocupam com as causas alimentares da maioria das doenças modernas, estando eles próprios sujeitos às mesmas, pois também alimentam-se pessimamente e não conhecem a composição dos alimentos industrializados, que constituem causas de 85% das doenças degenerativas. Então, dada a condição contraditória da nossa civilização e os valores hoje considerados normais e aceitos, ensinaremos  aqui como adoecer. Talvez assim esclareçamos melhor nossa gente, acostumada a seguir conselhos esdrúxulos e absurdos difundidos por uma imprensa manipulada por interesses escusos, que induzem ao consumo desenfreado, controlando a opinião pública ao seu bel-prazer. Se o digníssimo leitor sentir algum toque de ironia neste trabalho, não se preocupe; a realidade e a condição humanas são muito mais irônicas do que se possa imaginar.

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