segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Consumo precoce de glúten por bebês pode aumentar a probabilidade de problemas de constipação





Os resultados de um estudo publicado no início deste mês (Março/2010) por pesquisadores holandeses no American Journal of Gastroenterology, uma das revistas científicas mais conceituadas na área de gastroenterologia, sugerem que a introdução de gluten na dieta de bebês com 6 meses ou menos de idade aumenta significativamente o risco de prisão de ventre (ou ‘constipação funcional’) na criança, pelo menos até os dois anos de idade.

O glúten é uma proteína presente no trigo, cevada e centeio, e assim onipresente na dieta ocidental. Além disso, para os portadores da doença celíaca (uma condição caracterizada por uma intolerância permante ao glúten em pessoas geneticamente predipostas) a ingestão de glúten é responsável pela inflamação crônica e danificação da mucosa intestinal em função da reação auto-imune que ele desencadeia, levando à má-absorção de nutrientes e outros problemas derivados como por exemplo a osteoporose, anemia e fadiga.

Neste novo estudo, o objetivo dos pesquisadores holandeses era determinar se o glúten poderia de alguma forma também estar relacionado à constipação em bebês e crianças, uma das causas frequentes de visitas aos pediatras, principalmente na época em que se inicia a introdução de alimentos sólidos na dieta do bebê, bem como quando ocorre a transição do leite materno ou fórmula para o leite de vaca.

Para responder à esta pergunta, os pesquisadores analisaram os dados de mais de 4600 crianças. Os pais destas crianças completaram um questionário - envolvendo várias questões sobre a saúde da criança, amamentação, introdução de alimentos sólidos, medicamentos, presença de alergia à leite de vaca, dentre outras informações – em dois momentos do desenvolvimento de seus filhos: quando os bebês estavam com 6 meses e quando tinham 24 meses. A presença de constipação foi analisada como correspondendo à uma frequência de evacuação de menos de 3 vezes por semana e/ou presença de fezes endurecidas durante duas semanas ou mais.

Aos dois anos de idade, 12% das crianças, ou seja, aproximadamente 1 criança em cada 8, já tinham apresentado sintomas característicos de constipação. Após analisar características familiares e das dietas das crianças, o Dr. Kiefte-de Jong e seus colaboradores verificaram que a introdução do glúten na dieta precocemente foi o fator desencadeador da constipação em diversos casos: dentre as crianças que consumiram glúten precocemente (com 6 meses de idade ou menos), a probabilidade de terem sofrido episódios longos de constipação intestinal foi significativamente maior do que dentre aquelas que não consumiram glúten até os 6 meses de idade. Os resultados também não se alteraram quando os pesquisadores controlaram, na análise, os efeitos de fatores como o sexo da criança, peso no nascimento, tempo de gestação, nível de instrução da mãe, tabagismo pela mãe e origem étnica da criança.

Ainda assim, os autores do estudo ressaltam que é preciso considerar que a pesquisa não é isenta de problemas, dentre os quais a utilização de questionários respondidos pelos próprios pais sobre a presença de alergias alimentares (ao invés do diagnóstico independente), e a falta de informação sobre características do estilo de vida das famílias. Neste sentido, ainda são necessárias pesquisas adicionais antes de que se possa recomendar rotineiramente o adiamento da introdução do glúten na dieta dos bebês.

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